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Leio nos jornais que a ASAE apreendeu numa feira de sexo no Algarve vários artefactos por não terem instruções em português.
Julgo imaginar (embora a minha imaginação não seja tão fértil quanto a do sector empresarial em causa) o género de artefactos vendidos numa feira de sexo, mas não fazia a mínima ideia de que aquilo precisasse de instruções.
Assim sendo, compreendo a preocupação da ASAE. A mensagem que quis passar aos feirantes algarvios de sexo é clara : "Cuidado com a língua !".
Mas, e os analfabetos ? Não seria exigível que os tais artefactos tivessem também instruções em figurinhas ? Não muito explícitas, pois haveria o risco de o cliente levar as instruções e deixar ficar o artefacto. Mas pode muito bem suceder um analfabeto (a palavra tem sonoridades prometedoras) usar impropriamente o artefacto, com consequências imprevisíveis, se não para a saúde pública (dependerá do artefacto), para a sua própria saúde.
Os juristas designam de "difusos" os interesses dos consumidores que a ASAE tem por missão proteger.
Ora, o dos consumidores analfabetos de artefactos sexuais é decerto o mais difuso de todos eles.
Entretanto, pelo sim pelo não, já fui verificar se a minha escova de dentes tem instruções em português. Posso estar tranquilo, tem.
( "ASAE defende língua portuguesa" - Manuel António Pina, in JN 2007.09.05 )
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