quinta-feira, 16 de junho de 2005

A Invenção do Amor


Em letras enormes do tamanho do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis Apenas o silêncio A descoberta A estranheza de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterrâneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo É preciso encontrá-los antes que seja tarde Antes que o exemplo frutifiquee Antes que a invenção do amor se processe em cadeia
Desprendia-se deles um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
Daniel Filipe

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