segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Canto

Canto o que perdido cresce
entre o teu corpo
e o meu corpo.
Onde tu és o que me escapa
em sombra de terra e lua.

Canto o que de ti me escapa
entre a rocha
e o percurso da água.
Onde tu és verso e luar
na garganta do meu sangue.

Canto o verso e o luar
entre a noite que foi
e o tango que se adia.
Onde tu és sonho a bailar
no recanto que se habita.

Canto o sonho a bailar
entre os cabelos
e os olhos da chuva.
Onde tu és relva molhada
ou a lágrima do mar.

Canto de ti a relva molhada
entre o aroma das papoilas
e a árvore cativa.
Onde pedaços de vento
entram nas grutas do teu olhar

Canto os pedaços de vento
entre a canção libertadora
e o espaço dentro.
Onde tua hora ondulante
é fonte que acorda no rio.

canto tua hora ondulante
entre o tempo antes
e o tempo depois.
Onde tu és a humidade espessa
na carne que a brisa queima.

Canto a humidade espessa
entre os joelhos da noite
e os braços do dia.
Onde tu também és sexo
ou o espaço inadiável
que se dissolve na natureza.

Alda Carneiro

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