RSS

Babel

Realizado por Alejandro González Iñárritu, Babel foi um dos filmes maiores do Festival de Cannes de 2006, com o qual o cineasta ganhou o prémio de realização.
Com uma construção em forma de «puzzle», três histórias se interligam, uma situada em Marrocos, outra na fronteira entre o México e os Estados Unidos, uma terceira no Japão, todas elas testemunhando diferentes formas de violência, que explodem por um estranho processo onde a irracionalidade, a estupidez humana, tem um papel fundamental. Todas se apresentam sob a forma de tragédia, trilhada em equívocos, ou preconceitos, atitudes impensadas que desencadeiam consequências desmedidas.
Babel é um filme engenhoso: na era, dizem, da comunicação, uma sequência de factos e atitudes que, as mais das vezes, poderiam ter uma solução simples se houvesse vontade de chegar ao outro em vez de o julgar segundo uma grelha fechada, pessoal, tecida pela vida. A constelação de barreiras multiplica-se e tanto separa um casal, como um pai e uma filha, como comunidades, nações, culturas, continentes. E os seus personagens vagueiam, solitários, perdidos em terras estranhas (mesmo quando na sua própria cidade — veja-se o episódio japonês), como se a capacidade de conexão se tivesse perdido.
Babel é um sintoma que Iñárritu ergue, como um mal-estar, um «malaise» civilizacional, tanto mais emocionante quanto qualquer espectador é capaz de se projectar em qualquer dos seus personagens (todos somos humanos, afinal de contas) e, desmedidamente, esbracejar com eles.
Foi a última grande estreia de 2006 — e perfila-se já um dos protagonistas da temporada dos prémios que culminará com a atribuição dos Óscares.

(Jorge Leitão Ramos, in blog "Let's look at the Trailer" - Expresso 2007.01.07)
A não perder !!