Fanatismo
Há uns 25 anos, o meu professor de Religião e Moral levou para uma aula um conjunto de diapositivos que mostravam as consequências do aborto. Não me recordo do propósito. O objectivo era claro : uma pequena lavagem ao cérebro de alunos incapazes de argumentar e de levantar a voz contra tão inusitado exercício e tão escabrosas imagens. O professor era o padre da paróquia.Recordei o episódio quando, na semana passada, o JN noticiou que um padre de Oliveira de Azeméis se prepara para distribuir pelas paróquias que tem a seu cargo 100 mil (!) panfletos com imagens de teor idêntico, servidas por um argumentário desonesto.
No mesmo dia ficou a saber-se que um sacerdote de Bragança apelará, do alto do púlpito, ao voto no "não" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez no dia do referendo, o que é ilegal.
Antes disso, já o Papa tinha feito um delicado jogo de palavras para equiparar o aborto ao terrorismo.
O que mostra um conjunto tão triste de factos, que seguramente se repetirão nos próximos meses ?
No mesmo dia ficou a saber-se que um sacerdote de Bragança apelará, do alto do púlpito, ao voto no "não" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez no dia do referendo, o que é ilegal.
Antes disso, já o Papa tinha feito um delicado jogo de palavras para equiparar o aborto ao terrorismo.
O que mostra um conjunto tão triste de factos, que seguramente se repetirão nos próximos meses ?
Mostra hipocrisia e fanatismo.
A questão do aborto é, antes de tudo o mais, uma questão moral.
A Igreja gosta da palavra moral. Diz que a prega. E é verdade.
Mas prega-a de acordo com as circunstâncias, o que não é grande façanha para uma instituição que se reclama guardiã de valores perenes.
Quando, no caso vertente, a Igreja permite que o fanatismo lhe obnubile a razão, está a pregar não a moral da convicção, que recusa o sacrifício dos valores em função dos interesses de curto prazo, mas a moral da responsabilidade, que manda agir segundo a velha máxima de que os fins justificam os meios.
Maquiavel enunciou muito bem esta última regra : perde-se a alma para salvar a cidade.
Este não parece ser um caminho muito próprio para a Igreja.
A questão do aborto é, antes de tudo o mais, uma questão moral.
A Igreja gosta da palavra moral. Diz que a prega. E é verdade.
Mas prega-a de acordo com as circunstâncias, o que não é grande façanha para uma instituição que se reclama guardiã de valores perenes.
Quando, no caso vertente, a Igreja permite que o fanatismo lhe obnubile a razão, está a pregar não a moral da convicção, que recusa o sacrifício dos valores em função dos interesses de curto prazo, mas a moral da responsabilidade, que manda agir segundo a velha máxima de que os fins justificam os meios.
Maquiavel enunciou muito bem esta última regra : perde-se a alma para salvar a cidade.
Este não parece ser um caminho muito próprio para a Igreja.
Mas, como se sabe, os gostos não se discutem.
“Preto no Branco”, Paulo Ferreira, Chefe de Redacção, in JN 2007.01.11
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