(...)
Esta absurda cacofonia em que partidários do "sim" e do "não" esgrimem argumentos, opiniões, acusações, cada vez num tom mais alto, mais agressivo, mais descuidado, mais displicente, mais para se ouvirem do que para serem ouvidos, parte do princípio de que o essencial neste referendo é convencer. Duvido que alguém se convença nesta matéria, a não ser por rejeição - votava duma maneira mas ficou tão indignado(a) com uma frase ou uma atitude que passou a votar doutra. Talvez todos estes excessos possam servir marginalmente para mobilizar para o voto, embora duvide muito da sua eficácia, penso até que favorece mais a abstenção do que a mobilização
(...)
Fique já bem claro que eu gosto do som e da fúria da política.
(...)
O que me desagrada nesta campanha - feita mais para os homens do que para as mulheres - é que ela passa ao lado, mais do que isso, desrespeita, ignora, menospreza, o carácter essencialmente existencial, vivido, do problema do aborto.
(...)
É verdade que, como em todas coisas, há irresponsabilidades, há mulheres irresponsáveis nos abortos que fazem, como nos filhos que fazem, mas duvido muito que sejam a regra. A regra é que aborto é sofrimento, físico e psicológico, e é sobre esse sofrimento que vamos votar.
Esta absurda cacofonia em que partidários do "sim" e do "não" esgrimem argumentos, opiniões, acusações, cada vez num tom mais alto, mais agressivo, mais descuidado, mais displicente, mais para se ouvirem do que para serem ouvidos, parte do princípio de que o essencial neste referendo é convencer. Duvido que alguém se convença nesta matéria, a não ser por rejeição - votava duma maneira mas ficou tão indignado(a) com uma frase ou uma atitude que passou a votar doutra. Talvez todos estes excessos possam servir marginalmente para mobilizar para o voto, embora duvide muito da sua eficácia, penso até que favorece mais a abstenção do que a mobilização
(...)
Fique já bem claro que eu gosto do som e da fúria da política.
(...)
O que me desagrada nesta campanha - feita mais para os homens do que para as mulheres - é que ela passa ao lado, mais do que isso, desrespeita, ignora, menospreza, o carácter essencialmente existencial, vivido, do problema do aborto.
(...)
É verdade que, como em todas coisas, há irresponsabilidades, há mulheres irresponsáveis nos abortos que fazem, como nos filhos que fazem, mas duvido muito que sejam a regra. A regra é que aborto é sofrimento, físico e psicológico, e é sobre esse sofrimento que vamos votar.
Eu vou votar sim, mas admito que, exactamente com a mesma consciência do mesmo problema, haverá quem vote não.
(...)
Se percebêssemos esse silêncio interior da maternidade, mesmo quando dilacerada pelo aborto, seríamos menos arrogantes, menos estridentes, menos obscenos nas campanhas.
( J. Pacheco Pereira, in “Abrupto” , 2007.01.26 )
Acho obscena, assim mesmo: obscena, a utilização de crianças e adolescentes em programas como o Prós e Contras de ontem para falarem ou se manifestarem sobre o aborto.
(...)
Se percebêssemos esse silêncio interior da maternidade, mesmo quando dilacerada pelo aborto, seríamos menos arrogantes, menos estridentes, menos obscenos nas campanhas.
( J. Pacheco Pereira, in “Abrupto” , 2007.01.26 )
Acho obscena, assim mesmo: obscena, a utilização de crianças e adolescentes em programas como o Prós e Contras de ontem para falarem ou se manifestarem sobre o aborto.
Tal me parece ser da mesma exacta natureza que o inquérito sobre os costumes sexuais dos pais, que tanta condenação suscitou e bem.
Antigamente, no tempo em que os animais falavam, havia uma regra deontológica dos jornalistas que impedia entrevistas a menores sobre estes temas. Caducou?
( idem, 2007.01.30 )
( idem, 2007.01.30 )
0 koices:
Enviar um comentário