- 1. Eis um país mergulhado na tristeza de existir.
O Governo é mau, mas salva-se José Sócrates (do mal o menos), que quase ombreia em popularidade com o chefe de Estado.
O Governo é mau mas a Oposição é pior.
O Governo tem ministros maus e são tanto piores quanto mais aparecem. Correia de Campos, o da Saúde, então, é o lobo da espécie.
À primeira vista, não resta muito mais da sondagem da Universidade Católica para o JN hoje publicada.
Mas só à primeira vista. O que as sondagens mostram e a realidade comprova é a preponderância da ideia que dois homens têm para o país, num projecto único e sem diferenças. Uma visão bidimensional da realidade, a que a Oposição desamparada não faz frente, não apenas por causa das embrulhadas em que se mete, mas sobretudo pela aflitiva falta de ideias dos alegados projectos políticos.
Assim, de facto, mais vale estar como estamos.
- 2. Há muitos invernos, era este um país pior do que hoje é, a disciplina na escola marcava-se dentro da sala de aula.
E, às vezes, a geada da manhã era cortada por reguadas nas palmas frias das mãos. Uma por cada erro de cada exasperante ditado. Doía.
E o método era, por assim dizer, pouco ortodoxo.
Mas para lá desses excessos, não tão frequentes quanto isso, havia vontade de saber. E dignidade no papel que cada um dos intervenientes, alunos e professor, assumia.
Neste Inverno, uma professora com três décadas de ensino da Escola do 1.º Ciclo de Almedina, em Coimbra, perdeu a noção do papel. E, para corrigir alunos malcomportados, coloca-lhes um cartaz ao peito, que os miúdos depois passeiam pelo recreio
"Sou agressivo, não tenho direito de brincar. Estou de castigo."
"Esgotaram-se as metodologias possíveis", justificou a coordenadora da escola, num desabafo que ilustra a crise sem precedentes que o sistema de ensino atravessa.
Crise educativa, crise de valores, crise disciplinar.
E, se é verdade que aos professores se deve muita da responsabilidade pelo estado de sítio instalado, não é menos verdade que os sucessivos governos e os sucessivos ministérios da Educação têm uma quota de responsabilidade significativa.
Para além das famílias, evidentemente.
Nos últimos anos, os professores perderam, pela via legal e pela via moral, toda a legitimidade e autoridade sobre os alunos.
Ficaram com o rótulo de malandros e com o papel de amas-secas de alunos mimados.
Nem os bons se safam.
( Domingos de Andrade, chefe de redacção, in JN 2007.01.29 )
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