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RECEITA DE PAVÃO ASSADO


Cozinhar pavões envolve muito tempo e desapontamento.
Para matar um pavão, adopta-se o mesmo procedimento
usado para matar uma cabra-- corta-se a garganta e leva-se
a ponta de uma faca até ao cérebro para fazer sair o sangue.
Pendura-se depois o animal numa figueira, durante uma noite
para lhe amaciar as carnes, depois de lhe ter enchido o corpo
vazio com urtigas e atado pesos a ambas as pernas. Agora é
a vez de cortar a pele à superfície do animal, desde o pescoço
até à cauda e removê-la juntamente com as pernas que ainda
estão ligadas ao resto do corpo. Colocar no fogão a carcaça do
animal, tendo recheado o interior com sementes de cravo, salpicando
a sua superfície com ervas aromáticas e- aquilo que é mais importante
- envolvido o pescoço e a cabeça empano branco, mantido sempre húmido
durante o tempo de cozedura, para que não se deformem com o calor.
Quando a ave estiver cozida- o que irá demorar duas a três vezes mais do que
um capão, porque a sua carne é miuto mais rija- tira-se do espeto, envolvendo-a
depois na sua propria pele, que se conservou. Para fazer com que o pássaro pareça
estar de pé, é conveniente montar pernas de ferro sobre o tampo da mesa, colocando
sobre elas o pavão: o ferro deve atravessá-lo da cabeça à cauda, permanecendo, contudo,
invisível. Neste comenos, pode-se introduzir lã e cânfora no bico da ave e pegar-lhe lume.
(Gallio não gosta de o fazer porque tem medo do fogo). É altura de fingir que se está a
trinchar o pavão para os convidados, mas o que na realidade vós lhe ireis servir é a carne de pavoas
cozinhadas entretanto em segredo e ao mesmo tempo que o macho, cuja carne é, porém, mais macia e por isso mais aceitável para os nossos convidados. Não é aconselhável o consumo de pavões a quem sofra do fígado ou do baço.
A carne é pesada e não muito nutritiva.

in ' Notas de Cozinha'
de Leonardo da Vinci