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Obrigado Renato

Balança

No prato da balança um verso basta

para pesar no outro a minha vida.

 

 

É urgente o amor

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

 

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

 

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

 

Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer. 

 

 

Ainda sabemos cantar

Ainda sabemos cantar,

só a nossa voz é que mudou:

somos agora mais lentos,

mais amargos,

e um novo gesto é igual ao que passou.

 

Um verso já não é a maravilha,

um corpo já não é a plenitude. 

 

 

De palavra em palavra

 

De palavra em palavra

a noite sobe

aos ramos mais altos

 

e canta

o êxtase do dia. 

 

 

Sê paciente; espera

 

Sê paciente; espera

que a palavra amadureça

e se desprenda como um fruto

ao passar o vento que a mereça. 

Rotina

Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.



PS O Renato enviou estes poemas do Eugénio de Andrade e outros autores.