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"Hoje percebi que não existirá «amanhã» para nós dois.
Não vai sequer existir «o depois».
O «um dia». Proclamado em delírio, pura fantasia.
Recebi a notícia, numa nudez desamparada, a notícia que nos separa. Era tudo uma questão de tempo. Um tempo que deixou de existir.
Fica o silêncio mórbido, um túnel interminável escuro.
Tu e eu, dois caminhos distintos, paralelos, longínquos,
Carris enferrujados onde perdia o olhar, na esperança vã de te reaver.
Na ilusão de te encontrar.
A ti, a mim, um «nós» vagabundo, abandonado pelo tempo,
Despojado de um espaço que não teve lugar.
Perdi-te «Para sempre».
Oiço num murmúrio que me sacode o corpo com violência.
Corta-me a respiração.
E, como se me trespassassem com uma espada,
A sangrar, caída na berma da estrada,
Aceito que não haverá mais nada,
Não existirá o «depois» para nós dois.
Num vazio enevoado, uma espécie de tontura.
As mãos tremem, a voz soluça e os olhos transbordam
Lágrimas de pânico e tortura.
Há um grito sufocado que me aperta, estrangula por dentro:
«Hoje morri de ti» solta-se de repente.


"Com a devida vénia de Closet"