Com os olhos lavados em lágrimas, disse-me, uma vez, a mãe de um adolescente que acompanhei: "Dra., eu sei que é cruel o que vou dizer, mas sinto-me tão arrependida de ter tido este filho!"
Esta semana, depois de informar os pais de um doente que havia recaído e de ter levado uma valente coça num dos bairros da "Invicta", enquanto tentava comprar droga, disse-me a mãe, entre soluços: "Porque é que não levou uma paulada fatal para eu, finalmente, ter paz na minha vida!?!"
Viver diariamente com este tipo de situações levam a reflectir sobre a decisão de ter, ou não, filhos...É evidente que tenho consciência de que a minha realidade profissional não reflecte a totalidade social, de qualquer forma, esta é a sociedade em que vivemos e, se não passamos por este tipo de situações, conhecemos sempre alguém que as vive ou viveu.
Crescemos com o sonho de constituir uma família e, nomeadamente nós, mulheres, com o de sermos mães dedicadas...A realidade é bem diferente: empregos sem horas para sair, salários miseráveis, créditos para pagar, infantários a preço de hotel de 5 estrelas, amas que não inspiram confiança, pais que, revoltadamente, ainda têm que esperar anos para a reforma (o que impossibilita poder ter tempo para os netos), fraldas, pediatras,....AH! SOCORRO! Como é que é possível pensar-se em ter filhos hoje em dia?!!
Por outro lado, acredito que não deverá existir melhor experiência de vida do que pegar ao colo, pela primeira vez, um ser que saiu de nós, que é, na realidade, a única coisa que temos; ver dar os primeiros passos, proferir as primeiras palavras, dar um sorisso, crescer, ir para a escola,...No fundo, ver que também somos capazes de criar e educar seres que, progressivamente se vão autonomizando e conseguindo ter vida própria sem dependerem de nós...
Será que o AMOR é, de facto, a única coisa que pode justificar ter filhos, nos dias que correm?
Beijocas!
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