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Este homem é um Senhor!


Peço desculpa ao Tito mas, este homem também é um Senhor!!!

É uma sugestão apenas... mesmo para quem não goste do "António, o Escritor".

Uma entrevista brilhante...

Um grande entrevistador, Mário Crespo, um entrevistado brilhante, António Lobo Antunes, "o Homem"!

Está no seguinte link: http://www.ala.nletras.com/videos.htm

Para os menos pacientes, ficam aqui uns trechos de uma outra entrevista de "António, o Homem"!

«Mas não há escapatória para a morte!
É mais simples do que se pensa. Este ano, tive um problema de saúde
e sofri isso na pele, acho que o problema está ultrapassado mas foi um
ano duro. E a minha atitude era sobretudo de espanto, e a minha
preocupação era ter uma atitude digna e não cobarde. Vi pessoas com
uma coragem extraordinária e aprendi com elas lições de vida,
coragem e dignidade. As pessoas comportavam-se como príncipes
perante a situação e eu pensava estou aqui com pessoas que são
melhores do que eu, com uma imensa dignidade no sofrimento. Isso
foi uma coisa que me comoveu muito e fez pensar que vale a pena
viver entre os homens e com eles. Todo o sofrimento é injusto... Em
nome do quê é que uma criança de três anos morre com um cancro ou
uma leucemia? É muito injusto, qual a razão disso? Sempre me
intrigou a razão deste sofrimento porque o do interior tê-lo-emos
sempre. Estamos carregados de dúvidas e certezas e as perguntas que
nos fazemos ficam muitas vezes sem resposta. Porque vivo assim, em
que falhei e magoamos pessoas sem darmos conta com uma frase que
para nós é completamente anódina. Julgo que o segredo é estarmos
atentos aos outros mas frequentemente não estamos e, sobretudo,
não reparamos que são diferentes de nós. Daí o problema de escrever,
como colocar em palavras coisas que por definição são anteriores às
palavras? Como tentar cercá-las com palavras? Há zonas em mim que
desconheço, portas que nunca abri e que, no entanto, aparecem nos
livros e provocam-me uma certa perplexidade ao querer saber de onde
é que isto vem, de que profundidades nossas, que todos temos.

Por isso resguarda tanto a vida privada?
Ela não tem importância nenhuma, só a mim me diz respeito. Quando
fui operado escrevi essa crónica sobre o cancro porque já havia tanto
jornalista e gente à volta do hospital que resolvi ser eu a dizer: Tenho
um cancro no intestino. Não me deu prazer nenhum dizê-lo e garanto
que não me deu prazer nenhum tê-lo. O pós-operatório foi horrível e
duro, felizmente tive a sorte de ter um grande cirurgião e de todos os
que lá trabalhavam serem de uma grande delicadeza. Só tenho
gratidão.

O cancro está controlado?

Está controlado, neste momento o que faço são revisões periódicas.
Claro que pode haver uma surpresa - pode haver sempre! - mas até
agora tem estado tudo bem. É óbvio que na véspera de uma revisão
estou tenso e fico assim até saber o resultado mas também sei que se
houver um problema o Henrique (o cirurgião) vai lá e resolve-o.
Preciso de tempo, preciso desse tempo, preciso ainda de trabalhar.

Está a lutar contra a morte apesar dela estar sempre presente nos
seus livros...
Espero que a vida também! É inútil lutar contra a morte tal como é
inútil lutar contra a vida. É inútil porque a morte é uma puta -
desculpem o palavrão mas é a única palavra que encontro. Quando o
meu pai morreu, o padre que foi rezar a missa disse que detestava
aquilo porque nós não fomos feitos para a morte. De facto não
fomos... Há pessoas de quem gostávamos e que já não podemos tocar
e ver e cuja morte foi tão injusta. Ainda no sábado fui a enterrar um
camarada da guerra que morreu num acidente de automóvel. Foi
muito comovente ver aqueles homens duros, que fizeram a guerra, a
chorar como crianças. Eu chorei também, gostava muito dele e agora
quando nos reunirmos ele não vai lá estar. E não faz sentido que o Zé
não esteja. Eu tenho que viver pelo meu pai, pelo Cardoso Pires, pelo
Melo Antunes, estão dentro de mim até eu acabar.

Como contrariar a morte?
Ela corre mais depressa do que qualquer um de nós e a única coisa
que posso fazer para contrariar é escrever, a única duração que posso
ter é a que os livros tiverem. E aborrece-me que seja assim, é injusto
que seja assim, embora haja momentos em que todos nós desejamos
morrer, de desânimo e solidão. Há momentos em que quase temos
inveja dos mortos porque a vida nem sempre é agradável e fácil mas,
agora depois de ver as pessoas lutarem no hospital, senti que muitos
pensamentos que tinha eram indignos perante tanta grandeza.

Isso alterou a sua forma de ser?
Eu agora jogo com as cartas para cima, está tudo à vista porque é a
única maneira de viver. Demorei anos a perceber porque o
conhecimento da vida chega sempre tarde e pensamos que ocultando
conseguimos dar boa imagem aos outros. Agora é: eu sou assim!
Peguem, larguem, não posso ser amado pelo mundo inteiro embora a
sede de amor seja inextinguível.

Qual é a sua atitude perante Deus?
Existe um velho provérbio húngaro que diz que na cova do lobo não há
ateus, por isso julgo que não existe quem não acredite. O nada não
existe na física ou na biologia e quando se lêem os grandes físicos
entende-se como eram homens profundamente crentes, que chegaram
a Deus através da física e da matemática e que falavam de Deus de
uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito
naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou
daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia.
Cada vez mais o é para mim. É um bocado como diz Einstein, quando
afirma que Deus não joga aos dados.

Como é essa relação?
É claro que me zango com Deus porque permite o sofrimento, mas
talvez os seus desígnios tenham tais profundezas que não atinjo. O
sofrimento sempre me foi incompreensível porque nascemos para a
alegria. A minha atitude em relação à religião é essa, não estou a falar
de igrejas, estou a falar em relação a Deus e não acredito quando as
pessoas dizem que são agnósticas ou ateias. Não estou a dizer que a
pessoa não esteja a ser sincera, mas dentro dela e em qualquer ponto
há algo... Uma vez perguntaram ao Hemingway se acreditava em Deus
e a resposta foi às vezes, à noite.

Então à noite também acredita?
Acredito sempre mas a dúvida e pôr constantemente em questão é
próprio da fé. Muitas vezes pergunto-me será que existe? É óbvio que
sim.".

2 koices:

Tito disse...

O António é um grande escritor, e um senhor. Estou de acordo.Gosto muito de o ouvir, a até prefiro ouvi-lo a lê-lo...
Obrigado por teres partilhado connosco este post.

Tito disse...

O António é um grande escritor, e um senhor. Estou de acordo.Gosto muito de o ouvir, a até prefiro ouvi-lo a lê-lo...
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Tito disse...

O António é um grande escritor, e um senhor. Estou de acordo.Gosto muito de o ouvir, a até prefiro ouvi-lo a lê-lo...
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Tito disse...

O António é um grande escritor, e um senhor. Estou de acordo.Gosto muito de o ouvir, a até prefiro ouvi-lo a lê-lo...
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