Saia eu de um magnifico concerto de música clássica, quando observo, que no atrio do coliseu, para espanto de todos as pessoas que assomavam à sua porta, deparavam-se com uma chuva torrencial. Porra. Era mesmo chuva da grossa, daquela que não dá para esgueirar por entre os chuviscos, certamente iria ficar ensopado, mas, que se lixe, afinal não era todos os dias que temos o previlégio de presenciar um espectáculo digno desse adjectivo, espectáculo. Puxei os colarinhos da minha gabardine preta, Boss, para cima, bem junto aos maxilares, que se encontravam tensos, devido ao tempo frio que se fazia sentir, e com desdem, o cachecol foi enrolado à volta do pescoço. Descia pela rua fora, mão esquerda no bolso, enquanto que a outra firmemente segurava o guarda-chuva, que teimava em não estabilizar, muito por culpa das fortes e estúpidas rajadas de vento, diria, quase que ciclónicas. O tempo estava sem dúvida muito mau.
Não percorri mais do que dez metros, quando não é meu espanto que vejo ou ouço, já não me recordo qual o primeiro sentido despertado, uma pequena borboleta a tentar acompanhar o meu largo passo por entre o temporal.
Ouvia-lhe: "Por favor, por favor, meu Senhor, ajude-me!"
Nem tempo de reacção tive. Ao meu simples acto de abrandar a marcha, num frenesim desvairado a pequena borboleta, agarra-se ao meu braço, e suspira. De alivio, julgava eu. Não lhe dirigi palavra, ela também ainda não o havia feito. De soslaio mirava-a, um cabelo castanho claro, com uns dourados a lembrar ouro inca, a tez morena, uma bruta mini-saia, uns sapatinhos cor de rosa rasos, e uns olhos azuis ou verdes, não posso afirmar, era noite e não se enxergava um palmo à frente do nariz, dizia, uns olhos claros lindos de morrer.
Estava espavorida a pequena borboleta. Escorregava constantemente no piso molhado muito por causa desses malditos sapatinhos que havia comprado. Sabia que não estava muito bom tempo para sair com eles, aliás, não estava bom tempo sequer para sair, mas a ocasião era especial, ia ao coliseu, queria ir bonita, com os seus sapatinhos novos, rosinhas, e foi. Ponto final.
Pagava agora a factura da sua ousadez, sorte sua, estar eu por perto, confidenciou-me mais tarde.
Escorregava aqui: "...merda para estes sapatinhos!!!!"
Deslizava ali: " ... nunca mais os vou usar!!!"
Opppsss: "...Ai que vou cair!!!"
Agarrava o meu braço com uma força tremenda. Eu ria-me como os tolinhos, perdido com o riso. Por entre as gargalhadas, paternalmente, lá dizia algo:
" Cuidado com a poça!!!"
" Agarra-te bem!!!"
E perguntei-lhe: "Com um tempo destes trazes-me esses sapatinhos!?"
Adornou a cabeça e adolescentemente exclamou: " Oh!!! Eu sei...mas são tão lindos!!!"
Fiquei sem resposta.
(...)
E eram de facto, mas não tanto quanto a borboleta.
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