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Memórias da minha infância

Há uma história que costumava ouvir vezes sem conta quando era criança. Aliás, das muitas histórias que tive a felicidade de ouvir da boca dos meus pais, avós e professores, esta é a que recordo com mais intensidade, aliada a cheiros e sensações do passado. É uma história vulgar. Um menino que era pastor e tirava prazer de enganar os outros habitantes da sua aldeia. Costumava dar o alarme de que os lobos iam atacar, quando não havia qualquer perigo, só para se divertir a observar o medo e a pressa dos seus conterrâneos. Tantas vezes fez isto que, certo dia, os lobos estavam prestes a atacar e ele deu alarme. Pensando que era mais uma das suas mentiras, os aldeões resolveram ignorar o alarme do jovem pastor. Ele e todo o seu rebanho foi devorado pelos lobos.
Como todas as fábulas, esta tem a sua boa dose de crueldade. Mais ainda pelo final infeliz. Mais ainda porque é verdade. Mas cruel, sobretudo, porque é a única história da minha infância que continua a fazer sentido na minha vida de adulto.