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Anástrofe e incerteza ...


O título da crónica semanal do "Gato" Ricardo Araújo Pereira, na Visão do passado dia 7, é :

"Anástrofe e incerteza em Tony Carreira"

Uma análise deliciosa do conteúdo poético da obra do dito, de que reproduzo alguns excertos :

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Quem é hoje o mais conhecido e apreciado poeta português ? A Academia divide-se, o que demonstra, uma vez mais, que a Academia não percebe nada do assunto. Inúmeros portugueses sabem de cor os seus versos - e, no entanto, a Universidade despreza-o, a crítica ignora-o, as selectas barram-lhe a entrada. Valha-nos o povo que é constituído por senhoras maiores de 50 anos, que o venera. O mais famoso poeta português da actualidade é, sem dúvida nenhuma, Tony Carreira. Fazia falta um estudo sério sobre a sua obra.
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Tony Carreira não perde tempo a procurar o adjectivo certo. Na dúvida, é tudo "lindo". É o caso da vida, no poema Não chores mais ("Não chores mais / não nunca mais / que a vida é tão linda"), da mãe, em Mãe querida ("Hoje velhinha estás, querida mãezinha / Mas para mim sempre serás tu a mais linda"), de uma casa, em Coração perdido ("Hoje vives numa linda casa"), ou de várias coisas, no poema Ai que saudades (nele, o herói parte de "uma casinha branca tão linda", recorda "esse cantinho doce e tão lindo" e anseia pelo regresso à "ilha tão linda(...)que o viu nascer", que é, evidentemente, a "linda Madeira").

O poeta apresenta-se como "Um eterno vagabundo" (em Quem era eu sem ti), declara : "Sou vagabundo, não vou parar" (em A minha guitarra), descreve-se como "Um romântico meio vagabundo" (em Será que sou feliz), adianta que "Ninguém conseguia mesmo parar / O meu lado vagabundo" (em O mundo muda), define-se como "Um vagabundo feliz" (em A vida que eu escolhi) e, no belíssimo Eterno vagabundo, confessa "Já pensei ter mulher / Ter um lar a condizer / Mas não deu / Porque o meu coração / É vagabundo/ Até mais não".

Talvez o melhor retrato do poeta seja, de facto, o deste "vagabundo até mais não", uma vez que, como vimos, há muita indigência na poesia de Tony Carreira ( e aqui estou a ser tão denotativo como conotativo).
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Fica o incentivo para uma leitura atenta da poesia de Tony Carreira - que, por ser inclassificável, não me sinto capaz de adjectivar. A não ser, talvez, com a expressão : "muito linda".
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Este "post" é especial e carinhosamente dedicado a um amigo, fã incondicional do Senhor das Camionetas !

1 koices:

Anónimo disse...

Há pouco tempo atrás durante uma prova de vinhos disse o enólogo que os vinhos não se classificam como bons ou maus. É importante , isso sim, ajustar cada um deles pelas suas características a determinado tipo de comida. Quando tentamos classificar apressadamente alguma coisa, estamos obviamente a errar. A propósito do Tony, creio que esse benfiquistazito do Ricardo Araújo Pereira devia pelo menos ouvir atentamente as letras para não dizer asneiras.

Anónimo disse...

Há pouco tempo atrás durante uma prova de vinhos disse o enólogo que os vinhos não se classificam como bons ou maus. É importante , isso sim, ajustar cada um deles pelas suas características a determinado tipo de comida. Quando tentamos classificar apressadamente alguma coisa, estamos obviamente a errar. A propósito do Tony, creio que esse benfiquistazito do Ricardo Araújo Pereira devia pelo menos ouvir atentamente as letras para não dizer asneiras.