Tão perto e tão longe!

Quis o destino que fosse trabalhar para a Vila de Lousada. A 65 Km de casa e a 40 Km do Porto, nunca imaginei que fossem tantas as diferenças do meio a que estamos habituados. No local onde trabalho, a internet foi instalada há 4 meses (ninguém utilizava e-mail) e na zona ainda não têm acesso à televisão por cabo. De uma forma geral, os habitantes casam aos 18 anos para "ter liberdade" e estudar está fora de questão porque as fábricas só pagam o equivalente a quem tem, no máximo, a 4ª classe. Chamam "mecas" às cabras, dizem "ó de cima" quando querem dizer subir e pagam a renda em milho. Não sabem o que é um shopping, muito menos uma discoteca e o divertimento do fim-de-semana é "ir aos cavacos" (entenda-se, empilhar troncos).
Nas visitas domiciliárias que faço tenho visto coisas que nunca imaginei serem possíveis tão perto do Porto: casas cujas paredes não chegam aos telhados (estão suspensos com algumas traves de madeira), lixo (pacotes de leite, cascas de fruta e legumes podres) acumulado dentro de casa e animais que co-habitam com os proprietários. Mas, o pior, pior, pior é o cheiro. Como há falta de saneamento, as pessoas lavam-se, quando calha, em bacias de água fria; urinam e defecam nos mesmos e despejam os resíduos nos campos. Às vezes, o odor entranhado nos meus utentes é tão nauseabundo que, quando acabo os atendimentos, tenho que abrir a janela e deixar a porta aberta para o ar circular.
Quando chego a casa só dou graças por ter um tecto, água quente e uns pais que me permitiram estudar para não ter que me sujeitar a este tipo de condições...
Foi só uma primeira partilha...
Bjocas!