Quem entra desavisado no restaurante "Blindekuh", em Zurique, Suiça, terá uma surpresa. Totalmente no escuro, nem mesmo luz de velas é permitido, o visitante é levado a uma mesa apoiando-se nos ombros do(a) recepcionista, que o guia sem titubear pelo recinto. Acaba-se de entrar no reino dos cegos. No restaurante que faz parte de um projeto piloto, não somente o proprietário Jürg Spielmann, um padre, é cego, mas também todos os 20 funcionários. O único que não é privado da visão no local é o cozinheiro. "-É surpreendente descobrir como nós normais, sem iluminação, somos primitivos e desastrados, enquanto os deficientes é que parecem enxergar", diz Sylvia Friedrich, uma turista alemã que jantou no "Blindekuh" atraída pela fama do local, que já ultrapassa as fronteiras alpinas.
Não fosse pelo murmúrio, tilintar de talheres e copos, seria dificil imaginar que dezenas de pessoas sentam comem e bebem, sem a necessidade de luz. Pelo menos os cegos presentes utilizam os talheres. A maioria dos que têm a vista saudável, comem simplesmente com as mãos, após frustradas tentativas de utilizar garfo e faca no escuro. " Nós deixamos o cliente à vontade e avisamos logo para usar as mãos sem se acanhar, pois quase nenhum dos não-deficientes acertam com os uso de talheres no escuro", diz Helene, garçonete e 100% deficiente visual.
O padre e proprietário Spielmann afirma que antes de visar o lucro, o objetivo original do projeto era criar empregos para deficientes visuais. Aliar isso a uma forma de integrá-los, atraindo-os como clientes, só ajuda numa sinergia longe do assistencialismo.
Palestras, eventos e atividades são realizadas regularmente no restaurante, tudo na área de interesse deste grupo de deficientes e, naturalmente, tudo no escuro.
O sucesso do projeto tem tido repercussão tão positiva, que já entrou online a homepage do restaurante que tem servido como um fórum na Web sobre o assunto e a experiência, além de conter o programa mensal do mesmo.
Por razões óbvias comidas como espaguete e sopa não constam do cardápio. Os garçons e garçonetes carregam sempre pequenos sinos e o delicado soar servem de alerta auditivo, para evitar trombadas entre eles. Helene, a garçonete, diz sempre de qual lado serviu a bebida ao visitante e ao encher os copos re- conhece pelo som o momento de erguer a garrafa. "Eu escuto quando o copo está ficando cheio", diz ela.
Sylvia, a turista germânica que por curiosidade foi ao " Blindkuh ", dá o veredito mais fiel à realidade que se passa no interior do restaurante: " Quem, com uma câmera de video infravermelho, observar o interior do restaurante dirá com certeza que os cegos presentes são exatamente os que podem enxergar, enquanto concluirá que os deficientes são os que possuem a visão saudável ". A propósito, a tradução para "Blindekuh" é "Vaca cega".
Quando em Portugal???
Beijos e abraços,
Pedro Moreira
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