Dormi contigo a noite inteira junto ao mar, na ilha
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre fogo e água...
Talvés bem mais tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo...
em cima como ramos que um mesmo vento move...
em baixo como raizes vermelhas que se tocam...
Talvés teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como dantes, quando nem existias...
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora buscam o que agora-pão,
vinho, amor e cólera te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida...
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura...
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos...
Dormi contigo, amor, despertei, a tua boca
saída de teu sono, meu deu o sabor da terra,
de água marinha, de algas, de tua intima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora...
como se me chegasse do mar que nos rodeia...
Pablo Neruda
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