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Outrora

Outrora, quando no desespero, em desprezo tracei o evento que meu limite marcou no tempo

No linear entre o dia e a noite, o rio e o mar infinito, a semente e um fragmento do universo,
a imensa dor ou a paz do Senhor, onde o tempo marcou e traçou o limite:
. . . . que viesse mesmo o Diabo e escolhesse, me amparasse e me levasse no evento da partida, e me enterrasse o desalento em seus jardins, que mesmo infernais, a matéria é alma que o corpo não sente.
E no linear entre a vida e a morte, a certeza e a partida onde o tempo marcou, e traçou o limite:
. . . na hora chegada, foi o tempo de um fio de navalha, que o destino talhou. . . , e o Diabo não escolheu!
Na sensação estranha de cheiro de anjo, me estremeceram os sentidos e me amorteceu a coragem, que num castigo cruel e mórbido a jeito de Diabo, fez-me sentir o sangue vivo de alguém próximo que partia . . ., que morria, sem que esse tivesse querido contrariar o destino.
Mas que me importava Deus, a coincidência, o acaso, os outros, se estava no linear do desespero que em absoluto desprezo o traço que no tempo já marcado, tinha a certeza de estar no limite.
Que o destino se compadecesse de mim, e deixasse que o Diabo escolhesse, e de novo, de novo na hora, agora na terminada, mais um, outro fio de navalha que em colo de anjo, mais uma vez se talhava no destino que o Diabo não escolhe!
E aí, aí desabei por terra desmoronando em mim todos os meus sentidos, quando no castigo cruel e mórbido que repetia, me fazia sentir de novo o sangue vivo de alguém, alguém ainda mais próximo que, como quem por mim partisse, . . . . por mim morria.. . ,; e também sem que esse tivesse querido contrariar o destino.
Senti, não senti, senti a ausência de sentir numa só inércia desfalecendo, como que se todos os meus sentidos se esvaíssem por um fio de navalha, um rio sem fim, num frio arrepiante de suor no corpo, e medo, medo de criança em quarto escuro, e senti, senti na castração da adrenalina a ausência duma resposta.
Meu Deus. . ., tu a quem proclamam o todo poderoso diz-me: foi o acaso? A coincidência? O Destino com obra do Diabo em colo de Anjo no tormento ao direito de ser. Quem mais, quem mais por mim, para mim, porque era preciso que no espelho da morte eu sentisse e percebesse o sentido da vida? Mas que sentido afinal se o não tinha, e se ela, a vida, já de si mesma me tinha sido destinada na contradição dos tempos.. . . . Porquê? . . .
E senti, senti a ausência numa só inércia dum rio sem destino, e mais forte, mais forte que eu, deixei, deixei-me desfalecida sentir o medo, mesmo aquele de criança, e deixei, deixei-me sentar no colo com cheiro de anjo, e sem lembrar mais o Diabo, mais forte, mais forte que eu, deixei, deixei que o destino me ditasse, me talhasse na cruz a promessa, de que na réstia de vida que no fio da navalha ainda havia, faria um novo traço que no tempo sem limite, no mesmo jardim, que apesar de também infernal, também genial, e renasceria numa nova flor, dia a dia, ao sol da manhã. . .
. . . e dia a dia, ao sol da manhã, canto aos pássaros as flores no orvalho da madrugada, me firmo no universo latente e me atiro no espaço em busca das estrelas, dos sonhos, dos jardins porque não morri, dos amores que não vivi, e deixo-me, deixo-me no colo de anjo do destino destinado, que o tempo ainda dirá.
Ana Pereira