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Perfume no bigode

Costumo chegar antes de todos ao meu local de trabalho. Não por prazer, convém referir, mas sim por força de determinadas circunstâncias, as quais não vale a pena evocar. Hoje de manhã, como habitualmente, no meu gabinete encontro sempre um senhor bem disposto. Sempre. É a sua marca registada. Distinto, afável, elegante, cumprimenta-me sempre em inglês fluente e trata-me por Sir. Enquanto conversamos, a sós, alguns minutos antes da azáfama habitual das 8.30H, vamos folheando com desdém algumas páginas de jornais. Costumamos falar, nestes últimos dias, da "valise" de Lisboa, do errático Prof. Carlos Queiroz, da crise de valores, enfim, sobre variadíssimos temas. De repente, um "traque" à bolhão pato acompanhado com sorrisos brejeiros. "Traque" de sonoridade assertiva, com elevado teor proteico, diferente de todos os outros, "traque" que se alastra por todo o espaço, que agarra, que sufoca, que enxota, "traque" de ovo cozido com grelos, enxofre em estado sólido. De perfume no bigode rimo-nos a valer, não pelo óbvio aroma que se experimenta em tão exíguo espaço, mas sim pelo gozo que nos dá imaginar a reacção, ou melhor, a pseudo-reacção que tem quem entra a seguir no gabinete, pois existe o salutar hábito de nos cumprimentarmos todos de manhã. Ninguém se dá às dores ao portentoso impregnamento odorífico, todos sem excepção estão e saem do meu gabinete com o verdadeiro sorriso amarelo. Com um sorriso amarelo foram brindados e com um sorriso amarelo os deixei, pois pelo final do dia foi a minha vez de dar um valente e arrepiante "traque". Deviam ser 16.32.

3 koices:

de freitas disse...

Parabéns Zé Manel! É um texto criativo, muito criativo. Porque há tmas e temas para escrever, mas poucos, por pudor, escrever sobre traques. Quer me lembre só o José Maria du Bocage o fazia.E que bem o fazia!!! Não o traque, mas a escrita sobre...
Um traque é um traque! Só um patético mentiroso ou mentirosa não dão um traque. Que diferença há entre um traque latino e o arrotar muçulmano?
Diz o Zé Manel que há um portentoso impregnamento odorífico. E depois?
Aqui está uma questão para dissertar. Dissertemos, pois...

Manelão disse...

Não estive no teu escritório, mas com esta deliciosa descrição até consegui sentir o cheiro... Hehehe
O "traque" é um momento de libertação e deve ser partilhado com todos! :)

Tito disse...

Continuo rir-me como se fosse sexta feira. Fantástico track, quero dizer, pú, ou seja peido. Porque será que ua bufa, que não custa dinheiro nos pode por a sorrir e com dores abdominais. Liberta-te com os sonoros, que eu liberto-me com as fragâncias. Ah, e para a semana há mais...mais vale perder um amigo que dar cabo da saúde!

de freitas disse...

Parabéns Zé Manel! É um texto criativo, muito criativo. Porque há tmas e temas para escrever, mas poucos, por pudor, escrever sobre traques. Quer me lembre só o José Maria du Bocage o fazia.E que bem o fazia!!! Não o traque, mas a escrita sobre...
Um traque é um traque! Só um patético mentiroso ou mentirosa não dão um traque. Que diferença há entre um traque latino e o arrotar muçulmano?
Diz o Zé Manel que há um portentoso impregnamento odorífico. E depois?
Aqui está uma questão para dissertar. Dissertemos, pois...

Manelão disse...

Não estive no teu escritório, mas com esta deliciosa descrição até consegui sentir o cheiro... Hehehe
O "traque" é um momento de libertação e deve ser partilhado com todos! :)

Tito disse...

Continuo rir-me como se fosse sexta feira. Fantástico track, quero dizer, pú, ou seja peido. Porque será que ua bufa, que não custa dinheiro nos pode por a sorrir e com dores abdominais. Liberta-te com os sonoros, que eu liberto-me com as fragâncias. Ah, e para a semana há mais...mais vale perder um amigo que dar cabo da saúde!