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Nós os Portugueses

Qualquer povo é paradoxal mas certos crassos paradoxos denunciam a nossa menoridade. Os portugueses, por exemplo, têm uma paradoxal relação com o erro. No trabalho, somos quase sempre complacentes com a asneira, a nossa e a dos outros; toleramo-la, dizemos sofridamente «paciência», «não há-de ser nada», «para a próxima será melhor», «podia ter sido eu». Mas, fora do trabalho, quando o erro não nos compromete ou responsabiliza, ganhamos uma intolerância superior, nórdica, assassina. Na estrada, os cidadãos do burgo espumam ódio pelo condutor que se esqueceu do 'pisca' para a esquerda; num serviço público, quase recorremos à catana para esquartejar uma funcionária que nos fez esperar mais 30 minutos do que queríamos. Esta nossa esquizofrenia não é facilmente explicável e redimível. Mas ela existe. Somos um país que nunca decidiu se gosta mais do pai ou da mãe.