“PEDRO E O LOBO�
por
tito
em sexta-feira, 22 de agosto de 2003
Em conversas várias surpreendo-me rodeado de superlativos: recomendam-me filmes “excelentes�, restaurantes “fantásticos�, livros “geniais�, canções “fabulosas�.
Vou então ver esses filmes, vou ler esses livros: são com frequência objectos estimáveis, quase sempre correctos, por vezes notáveis; mas rarissimamente sobrevivem à mudança de estação e ao surgimento de outros filmes “magnÃficosâ€�, de outros livros “brilhantesâ€�.
Assim sucede tristemente que os superlativos por aà andam sem mesura, nas bocas de todos, ao deus-dará.
Ora eu tenho para mim que os superlativos deveriam ser estimados como os mais preciosos exemplares desse guarda jóias que é a lÃngua portuguesa.
Os superlativos são como uma tiara de diamantes, como uma gargantilha cravejada de esmeraldas, que as senhoras sempre conservam a bom recato num cofre de um banco da baixa portuense, e que mandam buscar somente para comparecer no casamento dos Duques de Bragança, ou coisa assim. Uma, duas vezes na vida.
Dizer de um filme simpático, mas apenas correcto, que é “fan-tás-ti-co� é como colocar a tiara todos os dias para ir à mercearia comprar batata-doce, feijão encarnado, óleo Fula: além de fazer de nós uns pindéricos irremediáveis, esse continuado abuso acaba por retirar à tiara todo o brilho, todo o chique, todo o efeito.
É que a excelência acontece; apenas não cresce nas árvores. Mas se por tudo e por nada gritamos “excelente!�, “esplêndido�, “brilhante!�, ninguém já nos escutará, ainda que, por uma vez, tenhamos razão.
Isso é sujeitar as coisas verdadeiramente muito boas a um desprestÃgio lúgubre; o que é de uma melancólica tristeza, como hão-de concordar.
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