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“PEDRO E O LOBO�


Em conversas várias surpreendo-me rodeado de superlativos: recomendam-me filmes “excelentes�, restaurantes “fantásticos�, livros “geniais�, canções “fabulosas�.

Vou então ver esses filmes, vou ler esses livros: são com frequência objectos estimáveis, quase sempre correctos, por vezes notáveis; mas rarissimamente sobrevivem à mudança de estação e ao surgimento de outros filmes “magníficos�, de outros livros “brilhantes�.

Assim sucede tristemente que os superlativos por aí andam sem mesura, nas bocas de todos, ao deus-dará.

Ora eu tenho para mim que os superlativos deveriam ser estimados como os mais preciosos exemplares desse guarda jóias que é a língua portuguesa.

Os superlativos são como uma tiara de diamantes, como uma gargantilha cravejada de esmeraldas, que as senhoras sempre conservam a bom recato num cofre de um banco da baixa portuense, e que mandam buscar somente para comparecer no casamento dos Duques de Bragança, ou coisa assim. Uma, duas vezes na vida.

Dizer de um filme simpático, mas apenas correcto, que é “fan-tás-ti-co� é como colocar a tiara todos os dias para ir à mercearia comprar batata-doce, feijão encarnado, óleo Fula: além de fazer de nós uns pindéricos irremediáveis, esse continuado abuso acaba por retirar à tiara todo o brilho, todo o chique, todo o efeito.

É que a excelência acontece; apenas não cresce nas árvores. Mas se por tudo e por nada gritamos “excelente!�, “esplêndido�, “brilhante!�, ninguém já nos escutará, ainda que, por uma vez, tenhamos razão.

Isso é sujeitar as coisas verdadeiramente muito boas a um desprestígio lúgubre; o que é de uma melancólica tristeza, como hão-de concordar.