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Carta à amiga Alda Carneiro



Já quase morreste mil vezes . . .
Na noite, podia ter-te asfixiado a angústia dessas mil noites suspensas . . .
Diz-me:
Que olhar têm os olhos vazios da Morte?
Qual o seu sorriso?
Lograram abraçar-te sem braços?
Como pudeste iludir seus passos invisíveis?
Fugir de suas asas insonoras?
Desafiar sua infalível foice rotativa, implacável?
Que fio de energia se ergueu de ti como uma serpente, ou um falo e enamorou e suspendeu o gesto
da sempre certa
da única certa
da destinada?
Diz-me:
Como foi então o sorriso
Como foi então o olhar dos olhos vazios da Morte?
Setº/89
Irene Infante