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A morte lenta ...

... do referendo
O instituto do referendo foi utilizado pela primeira vez em 1998, exactamente para saber se os portugueses queriam alterar a lei de interrupção da gravidez.
Houve mais gente a dizer 'não' do que 'sim', mas uma larga maioria dos portugueses não foi votar.
O sol, a praia e a certeza de que o sim ganhava foram apontados como grandes culpados.
Depois houve um referendo à regionalização.
Já sem sol e praia, nem a certeza de quem iria ganhar, a maioria voltou a não ligar patavina ao referendo.
O 'não' ganhou de novo e a culpa, desta vez, foi atribuída ao bairrismo e à divisão administrativa do país que o poder político escolheu.
Agora voltamos a referendar o aborto e voltamos a pensar que um dia faremos o mesmo com a Europa.
Não me vendo a mim próprio como um céptico, devo confessar que estou absolutamente convencido de que a abstenção está perto de vencer outra vez.
Este referendo pode não ser, uma vez mais, vinculativo.
Se isso acontecer, há razões para ficar duplamente preocupado.
  • Ponto um : a lei fica na mesma ou é alterada sem que a maioria dos eleitores tenha dado a sua opinião.
  • Ponto dois : o instituto do referendo é fortemente abalado. É quase uma condenação à morte.
Quando os eleitores se recusam a ir às urnas, em matéria de eleições, pode sempre alegar-se que andam cada vez mais zangados com os políticos, mas quando se trata de um referendo o que se pode dizer é que os eleitores não confiam em si próprios.
Isso é mau porque nos remete para um tempo em que tudo era decidido por um partido único.
É por isso que julgo que o mais importante que há a medir no dia 11 de Fevereiro é a participação dos portugueses.
E é por isso também que o principal esforço que há a fazer na campanha é no combate à abstenção.

( "Cá se fazem" - Paulo Baldaia, Chefe de Redacção, in Jn 2007.01.13 )