Os maus-tratos a crianças são um dos mais sórdidos capítulos da tragédia cultural portuguesa.
Os jornais dão quase diariamente conta de crianças retiradas às famílias biológicas por aí serem vítimas de toda a espécie de sevícias, desde espancamentos até abusos sexuais que muitas vezes conduzem a mortes atrozes ou a lesões físicas e psicológicas irremediáveis.
Retiradas aos pais, as crianças são depois confiadas a instituições onde, não menos frequentemente, o seu calvário continua.
Foi assim agora na Casa do Sagrado Coração de Jesus de Évora, como antes tinha sido no Colégio dos Órfãos do Porto e na Casa do Gaiato de Setúbal, todas ligadas à Igreja Católica.
Em Évora, três freiras foram constituídas arguidas sob a acusação de sevícias em crianças acolhidas na instituição e ainda um motorista por abusos sexuais. A madre superiora confirma que, ali, as crianças são, por vezes, "repreendidas tal como um pai faz com um filho".
O problema é exactamente o de as crianças continuarem, em certas instituições, a ser tratadas como alguns pais fazem aos filhos.
E talvez fosse exigível que a Igreja se preocupasse também um pouco, do mesmo modo que com o direito à vida intra-uterina, com o direito à integridade física extra-uterina das crianças a seu cargo.
( Manuel António Pina, in JN 2007.01.29 )
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