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Justiça ??

(Blind Justice, oil on canvas, 2003, Irinaart)

O crime de amar de mais

É a "justiça" que temos e os juízes (alguns juízes) que temos.
Um homem foi ontem condenado em Torres Novas a seis anos de prisão por se recusar a entregar a um desconhecido, o pai biológico, uma menina de cinco anos de quem, abandonada pela mãe, esquecida pelo pai, ele e sua mulher cuidam desde os três meses de idade.
O pai biológico nunca quis saber da gravidez da mulher com quem tinha tido o que, entre risinhos, chama de "caso casual".
Só viu a bebé duas vezes, de passagem, uma quando foi chamado a fazer testes de ADN, outra dois anos depois.
Agora, em vésperas de a criança fazer cinco anos, decidiu reclamá-la.
E o tribunal, pura e simplesmente, mandou que ela lhe fosse entregue, apesar de os psicólogos dizerem que arrancá-la àqueles que ela considera seus pais e entregá-la a um desconhecido será "dilacerante".
Para evitar à filha adoptiva (o processo de adopção estava em curso) a dilacerante separação, Luís recusa-se a revelar o seu paradeiro.
Resultado seis anos de prisão.
Porque os juízes (alguns deles) já não fazem "justiça", são meros burocratas da lei.
E a lei de tais juízes tanto dá para condenar a uma multa de 720 euros um polícia que matou um homem a tiro como para mandar seis anos para a cadeia quem, como Luís, comete o crime de amar de mais.
(Manuel António Pina, in Jn 2007.01.17)