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Os Pendurados


Lá passaram os reis e então é tempo de nós os republicanos, talvez até democratas, cantarmos uma nova canção a essa árvore de estranhos frutos que pendem por aí.
O enforcamento é a maneira mais sexy de liquidar alguém, melhor do que o feminino envenenamento ou a sodomita estrangulação.
Somos todos filhos dos transportes públicos, sabemos o que é andar dependurados.
Nós as vítimas desse STCP, sigla estalinista de malcheirosos bigodaças que desde os anos setenta tinham a mania de fumar, coçar os tomates e fazer horas no meio do percurso lá para a Praça D. João I e os Aliados.
Ah, julgavam que não nos lembrava-mos de vocês, seus moinas, que nos impediam de curtir o 78 até á Foz ?
Grandes canções, " tintim Areosa, tintim, Carvalhosa, tintim S. Pedro da Cova e o 15 vai para as Antas!" nem o Charly T se lembra desta... pudera o camarada Veloso já nem se lembra dos eléctricos na Boavista, nem do Boavista cão pião ! E os troleyes, mY god que levavam tanto tempo a chegar a Gondomar que ao fim as raparigas já não eram virgens ? E os rapazes também, desde que não fizessem escala no Campo 24 de Agosto; e todos e todas penduradas à saída do liceu que a escola era risonha e franca e a cultura vinha dos subúrbios.
Ainda hoje Saramago é uma planta, uma ilha ou um nóvil ?
Tenho saudades dos transportes púbicos, dos trincas e dos fiscais.
O povo tem razão.
Fosga-se, está frio de manhã, um briol e lá para a noitinha a vizinha cheira a tudo menos ás virilhas maravilhosas da Fernanda Serrano ou aos olhos de corça da Maria João Bastos.
O único gajo que se encontra nos transportes públicos é um maluco como eu ou o Billy Idoll em directa e em busca de afecto.
E lá vamos pendurados, com as nossas sinas e senhas de sobrevivência em busca de uma cidade que já não existe porque é traçada por máfias a metro e funcionárias de corte nada inglês .
Em que pensavam ao aniquilar o 18 para a Foz, o tal troley em troca de um metro giro que não passa dos 30km à hora, metade de um salário de um gestor?
Subir ao povo, porra, com autocarros de dois andares verdes onde se davam bons beijos ou laranjas assassinos que faziam a Praça da República em duas rodas, pá, pareciam drogados... País, dá cá, como nos tempos dos cavacos.

(Rui Reininho, músico, in JN 2007.01.13)
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Não resisti !!
Andámos tantas vezes nos ditos transportes, do Bonfim pra casa ou prá Baixa !
Era engraçadíssimo porque, ao invés de todas as convenções da época, as meninas do Rainha iam à saída do Alexandre só pra ver o Reininho !
E não me digam, mesmo hoje, que não é um personagem ...